13 abril 2008

TESTAMOS O SISTEMA DE SAÚDE

Algo que nos preocupava muito, e que ao mesmo tempo nos surpreendia quando ainda estávamos no Brasil era o sistema de saúde público do Québec. Nos preocupava porque sabíamos o que era o SUS no Brasil (apesar de nunca termos utilizado) e a dificuldade de qualquer sistema de saúde subsidiado pelo governo ser "saudável", e a surpresa era saber que aqui no Canadá e mais especificamente no Québec todos usufruem do mesmo sistema (pobres ou ricos).
Estando aqui, ouvíamos pessoas falarem bem, outras mal. Mas finalmente - e infelizmente - fui obrigado a utilizar meu cartão d´Assurance Maladie (cujo processo de solicitação se faz tão logo se chega ao Québec, e depois de 3 meses como residente você pode utilizar). Durante os 3 primeiros meses estávamos cobertos por um seguro privado brasileiro (aconselho aos que estão por vir), e tivemos que usá-lo duas vezes. A experiência não podería ter sido melhor, médico vindo aqui em casa no mesmo dia e soluções para os problemas.
Pois bem, na madrugada do dia 01 acordei com fortes dores na região pélvica. Achei aquilo estranho, pq nas duas madrugadas anteriores também havia tido dores, mas que passaram com o tempo. Desta vez estávam mais fortes e constantes, então resolvi ir na emergência do hospital mais próximo (Hospital de Verdun) para investigar. Cheguei lá, fui para a triagem onde fui prontamente atendido porque havia somente 1 pessoa na minha frente, me pediram para depositar urina num potinho e entregar à eles, depois na recepção abri um dossier, até aí tudo bem. Aí começou a longa espera... Depois de um tempo, me chamaram na sala de triagem onde cme informaram que haviam resquícios de sangue na amostra de urina. Coletaram então uma amostra de sangue para análise. Perguntei por quê tudo estava tão demorado, a enfermeira me disse que após a 1/2 noite só há um médico para toda a Emergência, e que além de atender aos que chegam pela porta de entrada do hospital, precisa também priorizar os que chegam de ambulância além de circular entre os quartos dos enfermos que já estávam internados. Bom, após deixar meu rico sanguinho no tubo de ensaio, outra longa espera. Aí finalmente o tal do médico me chama, faz uma série de perguntas, me aperta daqui e dali, até me dizer que ela suspeitava de que tinha cálculo no uretér. Que precisava fazer uma ecografia para constatar onde e de que tamanho era a pedra. Ok, me dirigi ao serviço de Raio X do hospital, mas para minha surpresa estava só um enfermeiro na recepção que me disse que as pessoas que manipulavam os aparelhos não estávam, que deixara meu telefone e iriam me ligar mais tarde.
Experiência número 1: boa estrutura hospitalar, equipamentos modernos, sala de espera da emergência cheia de bancos, mas MUITO tempo de espera: cheguei lá às 1 am e saí às 5:30.
Me ligaram por volta das 8:30, chamando para fazer o Raio X. Cheguei na recepção, fizeram a ecografia, esperei mais um tempo (desta vez havia muita gente na sala de espera porque era de manhã), o médico me chamou e confirmou que tinha um cálculo no uretér, me prescreveu alguns medicamentos e já deixou marcada consulta com um urologista uma semana depois. Detalhe, até esse momento só tinha sido aconselhado por clínicos gerais (tanto de madrugada quanto pela manhã), já que pelo sistema daqui especialistas somente depois de necessidade extrema.
Experiência número 2: mais uma terrível espera, chegando às 9:30 e saindo às 13:30. Porém foram eficientes no diagnóstico.
Experiência número 3: na semana seguinte me dirigi à consulta, saí do trabalho correndo, acabei chegando 15m mais tarde do combinado e adivinhem?! Isso mesmo, o médico já saído, não estava mais lá. Falha minha de ter chegado atrasado num país onde pontualidade é levado a sério, e mínima flexibilidade do médico que já tinha picado a mula. Próxima consulta disponível: somente 1 semana depois...
Experiência número 4: 1 mês antes desta história estava como a cor da urina escura, fui numa clínica médica perto daqui para ser atendido de urgência. Me atendeu um médico geral (como de costuma), me analisou mal e porcamente, me fez parcas perguntas e concluiu erroneamente que estava com infecção urinária (o que tinha era realmente cálculo!), me prescreveu uma semana de um antibiótico para a infecão (o que não me adiantou bulhufas porque o diagnóstico tinha sido completamente falho), e pediu para fazer exame de urina 1 semana após o término do tratamento medicamentoso, exame este que constatou que não tinha bactéria mas continuava com sangue na urina. Portanto, diagnóstico totalmente equivocado, consulta mal conduzida, tratamento errôneo, solução do problema nota zero.

Portanto no âmbito geral, dou nota 4 para o sistema daqui. Longas esperas, diagnósticos equivocados, perda de tempo e dinheiro em medicamentos que não precisava. Cabe salientar que os medicamentos são realmente baratos, porque na farmácia eles utilizam muito os genéricos a granel, na quantidade necessária para os dias indicados pelo médico. E pela empresa onde trabalho tenho plano privado e apresentante o cartão do plano os descontos ficam na faixa dos 80%. Aí vocês podem se perguntar: se ele tem plano privado, porque não foi direto num médico especialista?! Porque para consultar com um especialista tem que passar primeiro pelo generalista, se tentar direto a fila de espera pode levar até 2 meses! Portanto é mais rápido ir numa emergência e fazer tudo pelo plano público. Então para que serve o plano privado?! Mais descontos nos medicamentos, consultas odontológicas e coberturas no exterior caso necessário.

Claro que a nota dada muito foi em função de que no Brasil estávamos acostumados com plano privado, onde tínhamos toads as mordomias e médicos especializados quando quizéssemos. E que comparando com o SUS o sistema público daqui deve ser bem melhor. Mas está longe de ser eficiente e compatível com um país de primeiro mundo como se considera o Canadá

2 comentários:

Camila disse...

Oi gente,
achei o blog de vcs sasaricando na net e acabei lendo ele quase todo.
Adorei as postagens, as fotosas, a família etc...
Espero poder manter contato...
Bjos da família Morais
Fiquem com Deus!!!

Diego disse...

Oi Gadi!
Que demora mesmo. Também já ouvimos outras pessoas comentando que aqui em Ontario funciona da mesma forma. Eu estava conversando com um canadense e ele disse que o negócio era se mudar para Alberta, que tem dinheiro sobrando por causa do petróleo e pode investir mais no sistema de saúde.
Eu acordei um dia com uma pinta na pele inflamada e, por precaução, fui conversar com a enfermeira que fica na empresa onde trabalho. Ela disse para eu voltar na outra semana, para conversar com a médica (que ia uma vez por semana). Quando fui conversar com a médica, a pinta já estava de volta ao normal, mas ela quis marcar uma consulta igual com uma dermatologista. Adivinha pra quando? Novembro. Hehehe...
Ah, estamos esperando a visita de vocês mês que vem!
Abraço,
Diego e Adri