1 ANO - By Gadi

Pois é, faz muito tempo, porém parece que foi ontem... Fechamos com saldo positivíssimo o primeiro ano em terras geladas que agora estão tropicais.
Não quero me estender demais, primeiro porque não sou de escrever muito mesmo, e segundo porque prefiro passar alguns tópicos principais que caracterizem estes 380 dias até hoje.
É interessante o fato de que só consegui parar para escrever algumas linhas duas semanas depois de completar 1 ano, quando na verdade minha idéia era de fazê-lo no dia. Com certeza é um reflexo da bela adaptação que temos conseguido por aqui, já que o único que exclusivo motivo para o atraso é a falta de tempo. Falta de tempo esta que se justifica em função do dia-a-dia agitado que levamos pois nossa rotina está já formada. O que é ótimo!
O outro dia o meu amigo Anderson me perguntava: e aí, Gadi, depois de 1 ano aqui, quais são as coisas que mais te incomodam?
Portanto agora vou fazer o meu “bilan” e listar as 3 coisas que eu mais gostei, e as 3 que mais me decepcionaram do primeiro mundo canadense:

Segurança: não poderia deixar de fora este quesito... Segurança absoluta, ausência total de medo (eu disse TOTAL), liberdade para ir e vir, tranquilidade para andar de ônibus ou metrô, alívio no que diz respeito à liberdade que a nossa filha tem e terá, etc... Segurança nas pequenas e grandes coisas: por exemplo deixar a porta do carro aberta para estacionar o carro e ir até um caixa eletrônico, deixar os sapatos do lado de fora da porta de casa e não ter os mesmos furtados, andar na rua misturado com pessoas de cores e raças diversas, e perceber a indiferença delas com relação a você (ninguém fica de encarando ou metendo medo), carregar lap-top na rua sem ficar vigiando quem está por perto, andar com as janelas escancaradas pq não existem motoqueiros que vão te abordar, quebrar o vidro e levar tudo o que tem dentro do carro, ou mesmo te sequestrar. MEU DEUS, ISSO É VIDA!!

Acesso ao público: aqui a facilidade que a gente tem de “profiter la vie” é grande. Muitos parques possuem quadras de tênis e piscinas públicas (não precisa ficar pegando clube privado). A saúde é pública (mas cuidado, tem seus problemas...). A quantidade de eventos que acontecem em Montréal é brutal. Principalmente no período do verão, mas durante todo o ano. E boa parte deles são gratuitos. Se não são, existem períodos onde ficam. Por exemplo, há algumas semanas atrás, num Domingo, uma série de museus da cidade estavam com a entrada gratuita para aquele dia. Existe um cartão que vc compra por C$ 5 e te dá descontos em centenas de atrações da cidade. Com relação ao transporte público, com um único cartão você tem o direito de passar o mês inteiro andando de ônibus e metrô quantas vezes quiser na cidade e região metropolitana de Montréal. No que diz respeito à estudos: chegamos aqui, a Suzi teve o curso de francisação do Governo (detalhe: o Governo nos pagava mensalmente para fazermos...). Terminado o curso, ela começou outro agora na mesma Universidade (UQAM – Université du Québec à Montréal), de inglês. Olhem só a barbada: está estudando com bolsa (recebemos todos os meses) e para o valor do curso ela recebeu um empréstimo (não precisamos pagar nem um centavo), que será devolvido com juros irrisórios de 5%/ano) nos 5 anos seguintes ao término do curso. Ou seja, só vamos começar a pagar o curso no ano que vem, mensalmente em quantias pequenas.

A vida de nossa filha: sem dúvida nenhuma, se para nós a experiência está sendo inigualável, para a Ana Luísa sentimos que a escolha não poderia ter sido melhor. Em termos de educação, ela está sendo alfabetizada em francês e a estrutura da creche é ótima. Claro que isso tem seu preço, pagamos C$ 30/dia para mantê-la numa creche privada (C$ 600/mês), já que durante este primeiro ano não encontramos nenhuma creche pública (CLE) ou privada subvencionada pelo Governo. Porém, a partir de Julho colocaremos ela numa outra creche perto do novo apartamente que alugamos. E, pasmem, CONSEGUIMOS UMA CRECHE SUBVENCIONADA!!! Isto significa que ela estará numa creche excelente por C$ 140/mês! E não estou falando de uma creche qualquer, mas sim de uma que possui uma estrutura excepcional (com cozinha e todas as comidas preparadas frescas no dia), organização classe A, limpeza impecável, estrutura de ensino bem definida (por exemplo uma vez por mês as crianças tem uma atividade fora da escola – em Junho elas irão a um Camping no sul de Montréal onde farão uma série de atividades pedagógicas. Já imaginou a Aninha, toda independente, com seus míseros 3 anos indo em ônibus escolar passar o dia com a turminha dela num lugar novo?). E além disso a escola possui em cada sala de aula 2 professores (máximo 6 alunos), um que fala em inglês e outro em francês. A Aninha vai ficar super-hiper-megalíngue!!! Fora a questão da educação, a quantidade de parques que tem por aqui é imenso, na sua maioria com parquinho para as crianças (bem cuidados pela prefeitura, até pq a quantidade de vândalos por aqui é muito menor que no Brasil). As atividades ao ar livre no verão para crianças é gigantesco, como por exemplo teatros ao ar, onde grupos montam seus palcos e se apresentam gratuitamente na grama de parques. Além disso, ela está fazendo amizades com crianças de toda parte do mundo, o que coloca ela frente à frente com novas e diferentes culturas e formas de ser, incentivando desconhecido e ao mesmo tempo evitando futuros preconceitos de cor ou religião. Digamos que o único porém para as crianças é o frio do inverno. A Ana ainda não conseguiu aceitar bem o incômodo do vento gelado no rosto e nas mãos, e o frio e vento que ocorrem no inverno. Por isso, esportes de inverno pra ela ainda é algo que passa longe de seus planos...

Como pontos negativos, eu vou tentar ser bem breve porque meus dedos estão doendo de tanto escrever!!

Saúde: até agora, nossa experiência tem sido sofrível. Nos primeiros três meses os imigrantes não estão cobertos pelo sistema público (Assurance Maladie). Depois, passam a poder usufruir do mesmo. Porém eu tive um problema de pedra no canal urinário, e a demora para resolver o problema foi gritante. Inicialmente houve falha no diagnóstico do problema, depois horas de espera em hospitais, milhões de exames e nenhuma resolução rápida e certeira do problema, que só se deu depois que a pedra saiu por conta. Outra coisa: aqui toda e qualquer consulta se dá a partir de um médico de família, que vc deve pedir quando começa a vigorar a Assurance Maladie. Nós pedimos o nosso há mais ou menos 2 meses e seguimos em fila de espera... Dá pra acreditar? Ou seja, não temos médico!!!!

Dificuldade de crédito no início: durante todo o ano passado tivemos muitas dificuldades em termos de crédito. Por exemplo, para conseguir ter um cartão de crédito ou pedir empréstimo para qualquer coisa. Só depois de conseguir um trabalho, e ter trabalhado por pelo menos 6 meses é que as portas se abriram, e aí não só se abriram como se escancararam (tem que se ter muito cuidado pq nos países de primeiro mundo a tentação é muito grande, pois o acesso a crédito é quase que ilimitado depois que o seu histórico fica aceitável).

O inverno: vou falar mais pela Suzi, porque no meu caso suportei bem o primeiro inverno. Não me senti tão desconfortável a ponto de perder a paciência com isso. Mas o problema é que ele é longo... Neste último inverno nevou durante 5 meses (quase a metade de um ano inteiro!!), e os dias se tornam muito curtos, escurece cedo e em alguns períodos do inverno (principalmente janeiro e fevereiro) gerou uma certa depressãozinha na minha amada. Ela realmente se sentiu muito incomodada com tudo isso e as baixas temperaturas, não conseguiu aproveitar os esportes de inverno e claro que as atividades indoor diminuem também.

Enfim, saldo altamente positivo até agora, com muito mais ganhos do que perdas, sem dúvida alguma.
Esperamos que daqui há um ano a lista tenha novas descobertas positivas desta terra tão bela!Gadi